Os esclavagistas da Berbéria

Tendo em conta que o sr. presidente de Portugal decidiu, en hora mala, referir-se a eventuais indemnizações históricas que Portugal terá que fazer pelos males que causou ao longo da sua historia, com relevo para a colonização e escravatura, é preciso não esquecer que, em sentido inverso, ninguém fala da procura activa de escravos que era feita nas costas europeias do Mediterrâneo por parte de piratas oriundos dos países do Magrebe e do Império Otomano até ao início do século XIX. Estas zonas, conhecidas como Berbéria na altura, especialmente em torno da moderna cidade de Argel, capital da Argélia tornaram-se um importante centro de comércio de escravos europeus.

Toda a linha costeira do Algarve possui fortalezas que foram erigidas nos séculos 16 e 17 que não foi feita apenas por causa de ataques de potências estrangeiras na época, mas também por causa desta pirataria esclavagista. Temos provas dos ataques que eram feitas por estes “berbérios” durante séculos, desde ataques às armações de Atum em Lagos , ou os ataques em Tavira no século 16, como os ataques a Tavira e à fazenda da Gomeira. Muitas das populações de pescadores que viviam em pequenas aglomerados no litoral abandonavam-nos para se refugiarem na serra.

Ninguém se refere às eventuais maleitas causadas por estes ataques de muçulmanos ás costas europeias e se os estados africanos deles descendentes desde Marrocos, Argélia e Turquia deveriam para reparar o mal que fizeram aos europeus mediterrânicos durante trezentos anos.

Muitos destes prisioneiros, acabavam por ser “adquiridos” com fins consoante o género: os homens iam para as galés e as mulheres para os haréms. Para os homens, só havia possibilidade de libertação se se convertessem ao islamismo, que foi o que muitos fizeram, como foi o caso do holandês Jans Janzoon, que se converteu recebendo o nome de Murad Rais, e acabou sendo nomeado almirante da frota da República de Salé, na actual costa marroquina do Atlântico, cuja economia vivia inteiramente à volta do esclavagismo.

O raio de acção destes piratas era tão vasto que chegaram a haver ataques à Islândia e às ilhas Faroe. Na costa de Irlanda ficou documentado para a história o ataque a Baltimore, na coste oeste da Irlanda, em 1631, feito pelo mesmo Murad Reis referido anteriormente. Foram feitos prisioneiros 118 aldeãos, homens, mulheres e crianças que foram traficados para Argel, tendo três conseguido libertar-se e voltar mais tarde à Irlanda. Na sequência deste ataque a aldeia foi abandonada e os habitantes refugiaram-se na periferia.

Autor: digitalfisherman

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