Três exemplos do modernismo no Algarve

O seguinte ensaio pretende dar uma ideia de vários trabalhos de pintura, escultura e arquitectura efectuados no Algarve durante o século XX e cuja obra se caracteriza dentro do movimento conhecido por modernismo.

Paisagem – Algarve, por Carlos Filipe Porfírio

Segundo Francisco Rosa Dias (Dias, 2022, p. 19), em 1923 o pintor Roberto Nobre propunha que fosse criado no Algarve um museu de pintura. Isto porque em Lisboa haviam ocorridos 5 exposições havia pouco tempo de artistas algarvios, reconhecendo que havia pelo menos 7 nomes, todos eles, no entender de Nobre, ”pintores algarvios ou residentes no Algarve, ou pintando sobre o Algarve” (sic), estando entre eles o notável Eduardo Viana, então a residir em Olhão.

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O “Arco Triunfal” feito em placas de madeira

Em 1438 Johannes Gutenberg, um alemão ferreiro filho de mercador,, inventa a primeira máquina tipográfica. Há quem diga que não foram apenas as descobertas marítimas de além-mar que iniciaram o Renascimento, juntamente com a proliferação de riqueza em terras italianas que permitiu o mecenato aos grandes artistas como Leonardo de Vinci, Miguel Ângelo Buonarroti, entre outros. Mas foi a invenção do ferreiro alemão o principal motor por tudo que surgiu no Renascimento – a massificação da imprensa, permitindo a transmissão de novas ideias por via do papel impresso e que resultou em última análise no maior evento do Renascimento – o advento do Protestantismo.  A Bíblia foi obviamente o primeiro livro a ser reproduzido em obra. Em Portugal em Faro em 1487 terá sido impresso o “Pentateuco” (conjunto dado aos 5 primeiros livros da Bíblia) . Aqui está uma lista das principais obras impressas logo a seguir a 1438 e até 1500.

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O que é que uma coisa tem a ver com a outra !?

Brasão do Reino do Algarve – uma farsa !?

1666 dutch map vs 1666 tesouro da nobreza
Duas versões do “presuntivo” Brasão do Reino do Algarve, ambas do século XVII: a da esquerda é holandesa e figura no Atlas Contractus de Johann Janssonius (1666), a segunda é portuguesa e é referida no Thesouro da Nobreza de Francisco Coelho (1675)

ACTUALIZAÇÃO: Foi criado o artigo sobre o brasão do Reino do Algarve na Wikipédia. Escusado dizer quem é o autor original.

Na wikipédia tudo pode ser editado e tudo é editável e também pode haver membros da comunidade que, por opinião meramente pessoal insistirem num ponto de vista que quando descamba em desfavor, levam a discussão ao ponto de se auto-ridicularizarem. Foi o que aconteceu depois de um dos membros desta comunidade eliminar o brasão de armas que ilustrava a infocaixa do artigo da wikipédia sobre o Reino do Algarve sob o pretexto de o mesmo nunca ter sido usado pelas autoridades que governavam a província equiparada a um reino titulado, mas ser apenas uma fantasia criada por um ilustrador de mapas holandês do século XVIII. O que é certo é que o referido brasão figurou no artigo durante muito tempo sem ninguém o pôr em questão, assim como continuar a figurar no artigo homólogo da wikipédia inglesa e na espanhola . Fiquei um tanto espantado com a remoção, quando para mais o dito sujeito escusava-se sem demoras e sem explicar as razões da sua acção. Decidi repõr o brasão na infocaixa. Resultado: um “senhor administrador” qualifica a minha acção como “vandalismo”, colocando-se do lado do outro indivíduo detractor do brasão do Algarve, provavelmente seu “protégé”. Confronto este sujeito, e a resposta dele é pôr-me na frente a “carta de princípios da Wikipédia” com a ideia de que quem insere informações é quem as deve provar depois ( aquilo a que o fulano chamou “Ónus da Prova“). Em primeiro lugar, não fui eu que adicionei o brasão, ele esteve patente durante algum tempo, e sou tratado pelo sujeito, que venho a saber é um sysadmin da Wikipédia, como se fosse quem tivesse inserido o brasão, para além de ter sido tratado como se fosse um “vândalo“. Isto levou-me a pensar que a wikipédia é controlada por indivíduos que, abusando do seu poder dentro da comunidade, fazem valer as suas opiniões em função do estatuto que têm na sua comunidade e podem tratar qualquer colaborador (eu, por exemplo, que já tenho umas quantas centenas, senão milhares de bytes de texto editado na Wikipédia portuguesa) como se fosse um vândalo caso estes expressem opiniões contrárias às suas. Volto a confrontar o sujeito na página de discussão do artigo, ele finalmente, após várias vezes solicitado da minha parte para explicitar os seus motivos, lá se descose, e diz porque não acredita este brasão alguma vez ter sido utilizado pelo Reino do Algarve enquanto ele existiu (desde 1249 até 1834, fim da monarquia absoluta), quando fui substituído pelo “Distrito de Faro”. Apesar de tudo diz que o desenho existe, é um facto, mas foi usado apenas por ilustradores de mapas e nunca por portugueses e que hoje ele é apenas conhecido por algures no século XX, a câmara municipal de Silves, quando pretendeu redesenhar o seu brasão, ter perguntado à Sociedade Portuguesa de Arqueologia, na altura a autoridade portuguesa em termos de Heráldica, ter proposto a redefinição do brasão de Silves inspirando-se nos rostos dos reis mouros e reis cristãos que figuram no tal escudo, acto que levou a que as restantes autarquias algarvias também requeressem a mesma “renovação” do seu brasão de armas, tornando-se um denominador comum de todos os brasões dos municípios da região, a presença de um rei mouro e um rei cristão no escudo da autarquia. E que só depois disto é que toda a gente começou a pensar que o “Reino do Algarve” teria tido no passado usado este escudo em virtude desta reforma das armas. Mas, eu fui consultar outras fontes, e graças a elas, descobri num armorial português do século XVII – o “thesouro da Nobreza“, quase da mesma época que o Atlas holandês que deu a primeira versão do brasão, que surge um brasão quase idêntico, com a diferença de figurarem dois rostos em vez de apenas um em cada um dos quartéis do escudo algarvio e, claro de faltar a coroa e as cores amarela e vermelha do fundo dos quartéis. Não sei se Francisco Coelho, autor do Thesouro terá estado em contacto ou teve conhecimento do Atlas Contractus do holandês Johan Janssonius, mas se não esteve, a coincidência é boa demais para se tratar de um mero acaso, a grande semelhança entre os dois escudos. Quando confrontado com o escudo proveniente do armorial português, o meu correligionário da wikipédia pergunta “O que é uma coisa tem a ver com a outra?”. Eu estive para responder “O que é que o c… tem ver com as calças?”. Mas, dada uma das regras da wikipédia é não levar a discussão do tema para o tom de ataque pessoa, decidi ser sarcástico e expressar o que minha na alma de uma forma subtil. A discussão acabou por ali, pelos vistos o meu caro correligionário não gostou da minha ironia enquanto outro utilizador, observador, veio propor tréguas afirmando que o escudo poderá aparecer no artigo, mas não na infocaixa, proposta que aceitei de imediato, sem qualquer resposta por parte do senhor “sysop” da Wikipédia que provavelmente virá todos os verões apreciar o nosso Algarve, e não lhe agrada que o Algarve no passado tido um estatuto de “Reino”, se bem, a bem da verdade, apenas de uma forma simbólica e formal, e porque não a sua região (que desconheço qual seja) não deveria ter tido também esse direito. A discussão que tive com o sujeito está toda aqui.

Ataíde de Oliveira (1842/3? – 1915) – qual o verdadeiro ano de nascimento ?

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Francisco Xavier Ataíde de Oliveira, natural da freguesia de Algoz, um dos primeiros algarvios a mostrar na escrita o amor ao seu Algarve. Essencialmente como monografista  (para não dizer antropólogo), mas também como escritor, jornalista e etnógrafo, sendo conhecido pela sua recolha de Contos de Mouras Encantadas, sua primeira obra de maior sucesso, seguida pelas inúmeras monografias que escreveu. Nos primeiros resultados de uma pesquisa on-line pelo seu nome, o ano de nascimento aparece 1842 na wikipédia e neste site da Direcção Geral do Património e 1843 noutros. Continuar a ler “Ataíde de Oliveira (1842/3? – 1915) – qual o verdadeiro ano de nascimento ?”

Terminei de ler “1189: Último Massacre” de Nuno Campos Inácio 

1189: Último Massacre1189: Último Massacre por Nuno Campos Inácio

Avaliação no Goodreads: 5 of 5 stars

É-me um bocado complicado em poucas palavras falar deste romance histórico. Numa frase, a trama essencial é a visita de um monge cristão escandinavo guiado por um agricultor judeu habitante em Silves para poder traçar um mapa das regiões a conquistar pelo exército cristão da 3ª Cruzada que pára em costas algarvias ao serviço do rei português para conquistar o Barlavento Algarvio. Ao longo de 250 páginas, Nuno Campos Inácio descreve a costa algarvia sul de Sagres a Faro. A riqueza de detalhes é o resultado de uma extensiva pesquisa bibliográfica de que o número de entradas na bibliografia faz caso. Apesar do rigor de querer mostrar os termos usados na arte militar da época em todos os lados, obviamente não posso deixar de lado a crítica imanente ao Cristianismo. Sendo agnóstico e laico, não reajo de forma emotiva às ideias propaladas no livro que já serão do conhecimento geral porque o livro de Dan Brown “O Código Da Vinci” faz alusão à história da relação de Jesus com Maria Madalena que por sua vez é referido no Evangelho apócrifo de Filipe, o autor segue a mesma ideia e desenvolve-a, pondo de lado discussões sobre as bifurcações que o Cristianismo primitivo teve e o seu enquadramento nos acontecimentos da época. Achei no entanto deliciosa a ideia do primitivo povo cúnio, anterior à conquista romana, ainda subsistir quais “índios” no meio dos mouros.
De qualquer forma, o livro não vale pelo título que ostenta, pois o massacre é descrito apenas nos últimos capítulos. Todo o livro devia chamar-se era “Viagem pelo Al-gharb, na perspectiva de um cristão”.
Não entendi a intenção das ideias do autor do prefácio e de que maneira o mesmo se encaixa com o enredo sob uma possível luta milenar entre adoradores do sol e da lua. Pareceu-me solto do enredo.
Dar uma visão de todo e contar todos os pormenores e detalhes de uma época dá muito trabalho, é por isso que o género de “romance histórico” é difícil. O autor tem a sua liberdade criativa bastante mais restringida, porque no fundo o que ele faz, como se fosse um pintor, é acrescentar uns pormenores aqui e ali quando a maior parte da moldura e da ideia da época já são mais que definidos. Assim, o autor e por consequência o narrador vai ter de dar muita informação a respeito de todos os detalhes “já definidos”.
De qualquer forma, no global, gostei, só tive pena que o ponto mais leste que a viagem do monge nórdico tivesse terminado por Al-Harum (Faro) e não tivesse chegado cá para os meus lados, eu que sou de Tavira :).

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Há 63 anos, no Algarve, foi assim…

A neve substitui o branco das Amendoeiras inesperadamente num dia de Fevereiro… quando temperaturas caíram quase para baixo de zero em todo o país e a neve caiu como se o Algarve estivesse no norte da Europa !

http://www.sulinformacao.pt/2014/02/o-algarve-cobriu-se-de-neve-ha-60-anos/